Wednesday, June 07, 2006




Procura-se. Um dia sem obrigações.

As obrigações são vistas como um peso para a Existência, todos os dias existe uma ou outra responsabilidade a que não podemos ou não nos deixam fugir. E, as obrigações ainda que por vezes associadas aos filhos, pais, ou qualquer outro laço afectivo serão sempre obrigações. A hora certa para o jantar, buscar os rebentos à casa da sogra, o sábado de manhã para a actividade sexual semanal, e um sem fim de rituais que com o passar da centena de vezes se tornam nessa pesada monotonia obrigatória.
O irónico desta questão é que sendo uma acção que vez após dias se torna quase sufocante não deixa de ser praticada com a rectidão da primeira vez. Cumprimos o que não queremos à luz do respeito aos nossos, dos terceiros e de quem possa algum dia pôr em causa a nossa respeitável condição de cidadão exemplar. No entanto, e o intrigante desta nossa condição de Ser Social é que raro é o dia em nos deixamos levar sob o ímpeto de ser respeitável connosco próprios! Raro é o dia em se cumpre rigorosamente com o mesmo temor aquilo que gostamos de fazer?!
Não me lembro de pôr na porta do meu quarto um sinal de ocupado comigo próprio, “Aqui, trabalha-se a Alma”! Que foi feito de um vagar de outrora? De um tempo para o Tempo.
Não há além uma música que soa livremente. Existem notas, e acordes que se soltam para um outro amor, para uma audição, para uma aula. As cordas daquele violino partem-se pela tensão de não haver paixão.
Existe uma falta de Humanidade para com a própria Pessoa. Existe um egoísmo que se acomoda com a presunção de ser respeito pela natureza do Ser que habita. Mas esse egoísmo não é mais que outra obrigação de um mundo em que tem de se ser competitivo e agressivo, e vai-se tornando num ácido que nos corrói até sermos amargos e desprovidos de uma essência pura.
Existe a urgência de deixar a Criança realmente nascer! Ponham anúncios nos jornais mais mediáticos: “Procura-se um dia sem obrigações, um dia em que alguém nos faça sorrir sem ter hora marcada para o ter de fazer”!

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